Papo sério, guloseimas e afins.

Sorte do dia:
"Ah se eu pudesse sacar meu revólver" (Madre Teresa de Calcuta)

“Não há nada que uma boa paulada na nuca não resolva” (Mahatma Gandhi)

“But we can, you kow we can Let´s lynch the landlord man!!!” (DEAD KENNEDYS)

“Take’em all, take’em all Put’em up against a wall and shoot’em Short and tall, watch’em fall Come on boys take’em all!!!” (COCK SPARRER)

04/06/2010

Israel e a fórmula mágica da paz

Dando mais um novo exemplo ao mundo de como está empenhado na paz mundial, o Exército israelense atacou na madrugada de 31 de maio barcos da Frota "Free Gaza", que tentavam levar 10.000 toneladas de ajuda humanitária (entre materiais de construção, medicamentos, alimentos, e materiais de necessidade básica) para a Faixa de Gaza, onde 1,5 milhão de habitantes sofrem com o bloqueio que Israel impõe sobre o território para atingir o governo islâmico do Hamas.

 
A ação gerou contestações ao redor do mundo, tanto por meio de discursos de chefes de Estado e da ONU, quanto com revoltas em diversos países se opondo ao ataque israelense. Já o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, disse que as pessoas a bordo do navio invadido não estavam em missão de paz e são terroristas. 

A cineasta brasileira Iara Lee era uma dessas supostas "terroristas" dentro  das embarcações atacadas por Israel, e disse que a ação foi um "Apocalypse Now total", em referência ao filme de 1979 sobre a guerra do Vietnã. Costurados em roupas íntimas, cartões de memória das câmeras da cineasta sobreviveram aos confiscos do Exército Israelense, sendo que neles há filmagens do ataque. Tais imagens adquirem extrema importância, uma vez que são das poucas não violadas por Israel.


Em uma entrevista à BBC Brasil, Iara Lee afirma que operador de internet do barco foi morto com um tiro na cabeça.“Ele estava na sala de operações, perto da ponte, por onde entraram os atiradores de elite. O corpo dele foi encontrado com um tiro na cabeça”. Ainda de acordo com a cineasta, "Nos barcos pequenos, eles usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e armas de choque. Mas no nosso barco, eles chegaram usando munição de verdade [...] Nossa contabilidade é de que 19 pessoas morreram. Ainda há gente desaparecida, não sabemos o que aconteceu com eles. E ainda há feridos muito graves, praticamente morrendo, que não conseguimos retirar do hospital em Tel Aviv [...] Pessoas que estavam no barco contaram ter visto soldados atirando corpos no mar".





Coincidentemente, na edição de maio da Caros Amigos, o jornalista José Arbex Jr. publicou um artigo tratando sobre a política internacional de Israel. A análise de Arbex é de apenas alguns poucos dias antes do ataque israelense sobre o grupo de ajuda humanitária, e já enfoca os problemas que o governo Obama enfrenta por conta da postura permanentemente bélica do Estado sionista no que tange suas questões fronteiriças. Entitulado "Israel abre uma avenida para a catástrofe" publicamos aqui um trecho desse artigo:

"As crescentes tensões entre os governos dos Estados Unidos e Israel atingiram, nos últimos meses, um nível sem precedentes desde 1956, quando Israel resolveu atacar o Egito, em operação conjunta com a Inglaterra e a França, sem prévio conhecimento da Casa Branca, para tomar o controle do Canal de Suez. Elas são o reflexo de uma perigosíssima tormenta que se prepara no Oriente Médio e na Ásia central, envolvendo o conjunto dos países árabes e islâmicos, incluindo Afeganistão, Paquistão, Irã e, claro, Estados Unidos, Rússia e Israel. Exagero? Longe disso. Com a palavra o vice-presidente estadunidense Joseph Biden, durante uma visita a Israel, em 10 de março, ao advertir o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, segundo relata o jornal Yediot Aharanoth, um dos mais influentes em Israel:

"A coisa está começando a ficar muito perigosa para nós. O que vocês estão fazendo aqui cria novas ameaças à segurança dos nossos soldados que combatem no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão. Criam-se riscos novos para nós e para a paz regional'. A advertência ganha maior significado quando se recorda que Biden é um fervoroso defensor de Israel. Em outubro de 2006, o então senador pelo Partido Democrata chegou a afirmar que o apoio dos democratas ao Estado judeu 'vem de nossas vísceras, atinge o coração e vai até o cérebro. É quase genético.'

Biden criticava a política de implantação de novos assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados, em especial no setor oriental (árabe) de Jerusalém. No momento mesmo em que o vice-presidente iniciava sua visita a Israel, Netanyahu anunciava a instalação de 1.600 novas casas para judeus ultraortodoxos no bairro de Ramat Shlomo, em Jerusalém Oriental, além da construção de 112 novos apartamentos em Beitar Illit, na Cisjordânia. Irritado, Biden afirmou que 'dado que muitos, no mundo muçulmano, veem uma clara conexão entre as ações de Israel e a política dos Estados Unidos na região, qualquer decisão que agrida os direitos de palestinos em Jerusalém Leste terá impacto direto na segurança pessoal dos soldados americanos que combatem o terrorismo islâmico'. 

As advertências de Biden refletem as conclusões de um relatório apresentado no final de 2009 pelo general estadunidense David Petraeus ao Comando Unificado das Forças Armadas dos Estados Unidos. Segundo o relatório, 'cresce entre os líderes árabes a percepção de que os Estados Unidos não conseguirão enfrentar Israel, que os países cobertos pelo Centcom – quase todos árabes – começam a perder a fé nas promessas dos Estados Unidos; que a intransigência do governo de Israel no conflito Israel-Palestina está pondo em risco a autoridade dos Estados Unidos na região.' Centcom é a sigla em inglês de Comando Central, uma instância de controle das Forças Armadas  estadunidenses, criada em 1983, para monitorar uma vasta área que compreende o Oriente Médio e a Ásia Central."

 
 Ataque israelense sobre a Faixa de Gaza em dezembro de 2008. Apenas alvos militares, correto?...

O programa Sem Fronteiras, da Globo News, exibido em 03 de junho, também discutiu sobre esse recente ataque de Israel. O programa pode ser assistido nesse link: Mundo condena ataque de Israel aos barcos com ajuda humanitária.

Entre os entrevistados, está Chris Khamis, do Palestinian Solidarity Campaing. Abaixo, a entrevista que ele concedeu ao jornailista Sílio Boccanera.

 Sílio Boccanera - Essa missão dos barcos foi uma provocação, já que Israel havia dito que não daria permissão a ela?

Chris Khamis - Não, a provocação é Israel manter um cerco e um bloqueio medievais que proibem que chegue comida e material de construção. Isso é provocação. Isso é interpretado por muitos como um crime de guerra, já que é uma punição coletiva para as pessoas mais velhas e a população geral em Gaza. Essa é a provocação. O que as pessoas fizeram ao ir até lá foi tentar encontrar um caminho para vencer esse bloqueio, esse cerco medieval, que mantém 3/4 da população de Gaza abaixo da linha de pobreza.
Essa era uma missão humanitária para dar fim a algo que não deveria mais estar acontecendo no mundo hoje.


SB - Por que não aceitar a oferta de Israel de receber as doações e Israel mesmo distribuir?
Chris Khamis - Bem, por uma série de razões. A ajuda não tinha que quebrar nenhum bloqueio, tinha que ser liberada, mesmo havendo necessidade de se controlar o que entra e sai, em vez de deixar os palestinos de Gaza à própria sorte para desenvolverem a região e comércio, etc., que é o objetivo de um processo de paz.
Além disso, porque muito do material, principalmente no navio turco maior, era de construção, para reconstruir as casas que foram bombardeadas durante os ataques a Gaza no fim de 2008 e início de 2009. Esse Material não seria liberado porque não havia sido liberado no passado, então ele não passaria de jeito nenhum.


SB - E sobre o bloqueio? Israel diz que distribui comida e remédios para as pessoas em Gaza. Qual a verdadeira situação por lá?

Chris Khamis - É só ouvir o que a ONU diz. O que Israel libera é 1/4 do necessário. A comida é racionada aos pouquinhos, mantendo as pessoas famintas e liberando o mínimo para não morrerem de fome. Mas eles não estão liberando medicamentos suficientes, então as pessoas estão ficando doentes e morrendo por isso. Definitivamente não é o suficiente. 

O graffiteiro britânico Banksy bombardeando o muro 
de mais de 700 km com o qual Israel vem cercando a Cisjordânia

SB - Sobre o incidente com os barcos, Israel diz que os soldados foram atacados quando desceram nos barcos. Qual sua opinião?

Chris Khamis - Em primeiro lugar, é preciso haver uma investigação própria para isso. Não deve ser liderada pelos israelenses. Há um passado de distorções de fatos em vez de um olhar próprio, então vamos ver o que se verifica observando as filmagens. Não digo que eles foi falsificado, mas sempre que os israelenses dizem algo eu busco por verificações.Mas digamos que isso foi verdade e vimos os soldados chegando. Se você está num barco como esse no meio da noite e se depara com comandos armados até os dentes descendo sobre você...

SB - Você não os recebe com flores.

Chris Khamis - Tal qual eu ouvi alguém na BBC falar algo não tão bom assim, mas "O que vocês esperavam? Que oferecessem uma xícara de chá?". Então, você se defende. Tem o direito de se defender. Ainda mais quando você está em mar aberto, sem quebrar qualquer regra.

SB - Em águas internacionais.

Chris Khamis - Em águas internacionais. Então, eles tinham o direito de se defenderem. Esse é o problema. É preciso se perguntar o que acontece para se ter um pensamento tão psicótico? Israel acha que não se sujeita às regras de outros países? Que pode simplesmente descer dentro de um barco fortemente armada e esperar que ninguém reaja, como seres humanos geralmente fazem?

Se Israel atacou o barco, então houve a auto-defesa. Eles têm o direito de se defenderem no barco.


 Embarcação atacada pelo exército israelense

SB - Vamos olhar um pouco para frente, não a solução final para o conflito entre palestinos e israelenses, mas para as consequências imediatas desse incidente. O que você acha que vai acontecer?

Chris Khamis - Depende da resposta da administração Barak Obama e também de que forma a União Européia se pronunciará, já que eles sempre exercem a influência que eles têm. Muito depende disso.
Barak Obama está numa situação difícil frente a um dos seus grandes aliados, a Turquia. Ela se pronunciou e condenou a ação de forma bem contundente, assim com a OTAN, o que Israel fez.

No mesmo programa da Globo News ainda foram entrevistados Warren Hodge (Instituto Interncional da Paz), Peter Demant  (USP) e Richard Landes (Boston University). Este, ao defender a ação israelense, chegou a afirmar que "Basicamente, o que aconteceu foi que os israelenses cairam numa emboscada feita por gangues de jihadistas e, digamos que 12 foram mortos, e isso desviou a atenção do mundo.[..] O que o Hamas quer fazer é importar armas de grande porte e o Irã está feliz em poder enviá-las em barcos de ajuda humanitária. Na verdade, o que esse fato nos revela é que Gaza não está passando fome. É uma fantasia que foi criada."

 Nova York, janeiro de 2009, cartaz a favor do bombardeio israelense sobre Gaza:
"Que civis inocentes? Eles elegeram o Hamas!"

Tendo em vista esse último comentário, assista ao vídeo-reportagem (em inglês) feito pela rede Al Jazeera, em 06 de janeiro de 2009 (em meio aos ataques israelenses na virada de 2008 para 2009), sobre essa "fantasia criada" e a situação das crianças de Gaza.


Seguindo o raciocínio de Richard Landes, as imagens acima seriam, então, efeitos especiais fantasiosos?

Entenda mais sobre o sionismo com o artigo de João Bernardo publicado no Passa Palavra. Leia no link
De Perseguidos a Perseguidores: a Lição do Sionismo.

3 comentários:

  1. Hey Tim, vou me tornar um frequentador semanal do seu blog. Por enquanto só li este post sobre a Faixa de Gaza, mas já da pra perceber que tem o mesmo impacto que as suas aulas tem. Muito bom mesmo o blog.

    Até mais,

    Murilo do Cursinho do XI

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  2. E ae Tim, acertou na mao de novo! parabens.

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  3. Não dá pra não falar que são uns filhos da puta, né?
    Mandou muito, de novo!

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