Papo sério, guloseimas e afins.

Sorte do dia:
"Ah se eu pudesse sacar meu revólver" (Madre Teresa de Calcuta)

“Não há nada que uma boa paulada na nuca não resolva” (Mahatma Gandhi)

“But we can, you kow we can Let´s lynch the landlord man!!!” (DEAD KENNEDYS)

“Take’em all, take’em all Put’em up against a wall and shoot’em Short and tall, watch’em fall Come on boys take’em all!!!” (COCK SPARRER)

27/07/2011

Ausência...

 Amiguinhos e amiguinhas...

Como alguns já perceberam, infelizmente não estamos atualizando o blog com a constância desejada.

Falta de tempo mesmo (a melhor e mais inegável das desculpas, hehe).

A vida é dura!

Porém, eventualmente realizaremos publicações de primeira grandeza sobre esse mundo sujo.

Fiquem de olho! Ah, e caso possuam sugestões e idéias geniais para esse espaço, basta entrar em contato!

Força aí!

Formiguinhas do aquário, qual é o sentido desse vai-e-vem infinito? Pagar contas?!....

05/06/2011

Verônica Spnela n'A CORTIÇA & A CORTIÇA no L.O.T.E.

L.O.T.E? Sei lá o que é isso! Mas me convenceram que rola diversão a valer! Então A CORTIÇA participa e divulga o L.O.T.E. - Lugar, Ocupação, Tempo e Espaço (uma parada de artes e tal lá na UNESP).

Vejam só:

L.O.T.E. - Ação-vivência em Arte inspirada nas proposições das JAC's (Jovem Arte Contemporânea), Mitos Vadios e Muitas Vadias, Faxinal das Artes, Festival da  Serrinha etc. A proposta é demarcar lotes nos espaços internos e externos do Intituto de Artes da UNESP (com grandes áreas de metros cúbicos ou quadrados... tipo DogVille, saca?!) e distribuí-los para que os estudantes possam deitar e rolar com produções artísticas livres e todas as propostas legais das artes visuais.

Para mim, o momento mais esperado é o encerramento do evento (dia 11 de junho), pois vai ter festinha, canapés, bebidinhas e "arthistash conthipurâneush" de nariz em pé preparados para levar uma boa tortada! Então, entre bêbado e vire notícia! Fun, fun, fun!

A Programação deve ser confirmada no site http://www.ia.unesp.br/saia/saia.php

Falando nessa tal de arte, agora A CORTIÇA conta também com a maravilhosa participação da V.Spnela e suas fotos radicais! Fantastic! Seguindo os conselhos do Rodchenko, a V. procura acostumar as pessoas a ver a partir de novos pontos de vista, com fotos de objetos familiares, cotidianos, a partir de perspectivas e posições completamente inesperadas. Ou algo mais ou menos desse tipo que ela tinha me falado!

Enfim, como degustação, apreciem alguns de seus registros de olhares ao longo do interior do Estado de SP.















Amazing... isn't it?!?! E para ver ainda mais fotos da V., acesse Like To See. Sim, você vai gostar!

08/05/2011

Mais uma estréia em A CORTIÇA: Taka!!

Isso mesmo, as novidades continuam!
O Time d'A CORTIÇA não para de crescer!
Conhecido como "O cara mais legal do mundo", "bom companheiro", "um cara consensual" e "eternamente amável", com vocês: Taka (ele mesmo!)

Olá caros leitores d'A CORTIÇA. Sou conhecido como "Taka" e fui convidado pelo conselho editorial deste blog para contribuir com o blog. Primeiro vou me apresentar: sou formado em Sociologia e Política e atuei em diversos movimentos da esquerda partidária.  Porém, nos últimos 11 anos, mudei meu espectro político e fui membro ativo de organizações e campanhas da esquerda autonomista e libertária de São Paulo.


 Nos primeiros sete anos com a esquerda autonomista me definia anarquista. Hoje em dia, passados os anos, vejo que esses rótulos tão específicos não importam tanto (pelo menos pra mim). Conheci muito anarquista tão autoritário e dificil de trabalhar quanto um fascista declarado. E, ao mesmo tempo, conheci muitos "pelegos" mais revolucionários que muitos "comunistas de universidade". Me identifico com o socialismo e com a democracia popular. Posso ser taxado de socialista, assim, bem geral mesmo.

Quando fui convidado pra escrever subitamente deu um branco. Naquele momento percebi que havia perdido a prática da escrita militante. Nunca fui um grande escritor, mesmo que no meu computador tenham muitas páginas de escritos nunca tornados públicos. Assim, motivado pelo convite, pretendo usar esse espaço no blog pra divulgar textos menos rigorosos e escritos as pressas, mas que atendam a uma rápida análise de situações atuais.Também vou remexer nas coisas que tenho escritas aqui, todas bem bagunçadas, e colocarei um pouco de ordem nos meus pensamentos. Vou publica-los paulatinamente e de diversas formas.

Tenho um blog inativo http://takahashi.noblogs.org/ e acho que vou retoma-lo também.

Já adianto os assuntos que me interessam e que irão pautar minhas contribuições: política brasileira, ética, relacionamentos pessoais,  economia, cultura, educação, movimentos sociais, cidade, transporte, religiões, ideologia, artes marciais, ação direta, politica internacional, populações originárias, antiproibicionismo, mitologia e outros...

Como já devem ter percebido não tenho o senso de humor ácido e nem o carisma literário do meu generoso anfitrião que inaugurou este blog. Mas quem sabe, através desse trabalho conjunto que iremos realizar a partir de agora seja possível que minha redação fique mais incendiária e menos formal. Até mais!

30/04/2011

ESTRÉIA de BÁRBARA em A CORTIÇA: Arte e Educação

 Seguindo sua "nova" política editorial (na verdade nunca houve uma) o blog mais inovador do bairro, A CORTIÇA, apresenta a primeira contribuição de nossa querida BÁRBARA MILANO! 

A partir de agora, frequentemente os assíduos leitores poderão compartilhar das impressões de nossa companheira sobre as "cousas" da nossa insatisfeita existência. 

Essa é apenas uma das inovações pelas quais A CORTIÇA está passando. E, sim, tem mais!

Enfim, sem bi-bi-bi, nem bó-bó-bó, vamos direto ao ponto! Barbarela!!!

 Quando fui convidada pelo conselho do A CORTIÇA para integrar de algum modo sua página, me senti grata e honrada, é claro, pelo espaço. Logo comecei a pensar: Mas sobre o que escrever? Artes... Artes... Feiras de arte, masturbação elitista, glorificação do ego nosso de cada dia... Arte-educação, educação... É isso!

Passaram-se dias, dias e nenhuma argumentação epifânica sobre arte-educação nas escolas, museus, praças, viadutos me ocorria.

Bem... Preciso antes me redimir e deixar claro ao leitor que escrevo como estudante. E não tenho a pretensão de lançar aqui alguma verdade nunca antes imaginada. Quero apenas refletir com vocês alguns aspectos deste vasto tema, começando, é claro pelas nossas corriqueiras conversas de buteco, aquelas discussões inflamadas sobre qualquer coisa, futebol ou política... Onde imagino, você tenha ouvido alguém dizer: “O problema é a educação! Se eu fosse presidente eu investiria tudo em educação, as crianças passariam o dia na escola...”.

(suspiro) Me pergunto, que educação é essa que o interlocutor metafórico Zé presidente acredita ser tão necessária? Em que autores o patriótico Zé presidente se ancora para suas afirmações?

É claro que, para termos opinião sobre algum assunto não necessariamente precisamos saber tanto quanto o Jô Soares. Conceitos vão se formando muitas vezes de observações quase superficiais e o exercício de falar e debatê-las com os amigos nos torna, eu acredito, mais aptos para perceber nossos próprios pré-conceitos sobre as “cousas”. Mas é consenso geral que tenhamos alguma familiaridade com o tema... não é? E no que diz respeito à escola, quase todos nós, em uma metrópole como São Paulo, temos alguma experiência ainda que desastrosa.

Opa! Está é uma questão interessante, o que podemos considerar uma boa experiência escolar? Vamos pensar: Mensalidades que fazem com que os pais estejam mais ausentes do que presentes na educação de seus filhos; piso emborrachado e quinas protegidas com EVA para que não exista o risco daquele cortinho no queixo que deixará marca por toda a vida, deixando a pessoa inapta para algum destino glamuroso onde sua beleza e perfeição seja o único pré-requisito; livros e mais livros escritos e ilustrados por profissionais pouco críticos e preconceituosos... Ou talvez, uma formação que nos proporcione alguma autonomia diante das “cousas” do mundo?

 
"Falando em autonomia. Qual a autonomia da educação brasileira em relação ao mundo? Temos uma razão própria as nossas necessidades?"

Em John Dewey e o Ensino de Arte no Brasil (Ed. Cortez, 2001), Ana Mae Barbosa dedica ao terceiro capítulo o título “Cronologia da Dependência”, que discorrendo sobre a história da educação no Brasil aponta a incessante fixação em modelos importados. Não sendo contudo, apontado como solução pela autora a “romântica” (como ela adjetiva) idéia de que devemos viver em uma ilha de isolamento. (Se faz necessário deixar clara essa relação de opostos levando em conta nossa cultura de isso ou aquilo e quase nunca isso e aquilo).

A realidade é que a educação brasileira tornou-se uma colagem de experiências vindas de fora. Ainda sim, toda escola particular no Brasil e a maioria dos professores de arte, mesmo no sistema público, procuram mostrar ansiosamente que estão usando métodos criados por eles próprios, ou pelo menos modificados por eles. As modificações nunca são estruturais, mas sempre insignificantemente periféricas e algumas vezes meras reduções de modelos estrangeiros. No último semestre tive uma aluna que ensinou arte durante oito anos numa escola experimental de São Paulo, e nunca se dera conta de que nela se seguia o modelo da escola de Sèvres, na França. Pensava que a experiência era de origem exclusivamente brasileira.

O primeiro passo em direção à independência é a conscientização da dependência. “Aqueles que verdadeiramente se comprometem com a libertação”, deviam adotar um conceito dos homens 'como corpos conscientes' e da 'consciência como consciência intencionada ao mundo'.” (Paulo. Freire. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970, p. 77.)

As análises existentes sobre o sistema educacional brasileiro provam, por exemplo, que as soluções vindas da França, dos Estados Unidos ou da Inglaterra implicam o mesmo grau de renúncia da consciência social. Porém, a falta de consciência histórica está levando os intelectuais e professores de arte brasileiros a supervalorizarem a influência francesa ou inglesa como uma estratégia de luta contra esta influência. Contudo, a respeito de invasão cultural, concordo com Donald Swift: “Não podemos aceitar distinções qualitativas entre culturas”, e com Carnoy, que afirma: “Descolonização ou libertação exige luta social e pessoal, o que requer muito mais do que simples recolher uma bandeira e hastear outra”.”

Não creio que minhas palavras tenham agora alguma validade na finalização deste texto, talvez fosse mais proveitoso buscar mais algum excerto nos livros e textos de minha estante. Mas não quero me alongar muito... Quero que isso seja parte da conversa de buteco.

 (Desconsiderem o símbolo do flamengo, por favor...)

Bárbara Milano é estudante de Licenciatura e Bacharelado em Artes Visuais. E têm muitas dúvidas quanto a possibilidade de uma mundo melhor.

10/04/2011

Descaminhos de Ana de Hollanda

 [NOTA: A CORTIÇA continua passando por reformulações e essas coisas... Enfim, dentro em breve a coisa fica mais definitiva! Enquanto isso, vamos descer o pau na Veja, que também é responsável pela tragédia de 07 de abril na escola do Rio de Janeiro....

  Matança no RJ??? Bota na conta da Veja!!!

.... ah, e vamos meter o dedo no olho da elegantérrima, sempre bem quista, mesmo portando todo aquele glamour decadente, Ana de Hollanda!]

 DESCAMINHOS DE ANA DE HOLLANDA 
(ou " Como Foder Tudo em Apenas 100 Dias de Governo")

Como dizia a canção “toda família tem alguém que não convém”! Sim, Ana de Hollanda é a "irmã que lê a Veja"!! (nos sábios dizeres de um amigo meu)

A mídia corporativa até deu algum destaque (ao longo do mês de março) para os descaminhos e retrocessos que a Ministra da Cultura, Ana de Hollanda tem imputado sobre o MinC. 

 Realmente, é tão simples ser a grande mácula dos 100 primeiros dias de mandato Dilma

Pelos motivos torpes típicos da imprensa golpista, deu-se muito destaque à queda do Emir Sader, por ele ter dito que a atual ministra é “meio autista”. Pouco se falou das mentiras que Ana de Hollanda anda disseminando por aqui.

Por conta disso, recomendamos o artigo de Rodrigo Savazoni publicado na revista Fórum: “Ana de Hollanda e as Mentiras sobre o Creative Commons”. Basta clicar no link.

Na verdade, ela já deixou bem claro de que ela nem sabe do que está falando. Veja as pathasquadas por ela aprontadas em audiência no Senado clicando aqui.

Nesta semana, deixando claro que a gestão Ana de Hollanda desagrada a qualquer ser pensante, José Castilho Marques Neto pediu saída imediata do cargo de secretário Executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura, que ocupava desde 2006. Ele ainda preside a Editora da Unesp e foi diretor da Biblioteca Mário de Andrade.

E foi então que a bruxa má assustou a todos com seu olhar psicótico e frases de gelar a alma:
"É claro que eu acho que o Bolsonaro seria o cara ideal para gerir o ECAD"

Diferentemente do Emir Sader, Marques Neto não é alguém odiado pela grande mídia corporativa. Será que vão tratar o assunto como "ainda bem, um a menos" assim como fizeram com Sader? E agora, Ana? Vai continuar ignorando ou desdenhando os que obviamente são contrários às suas práticas retrocessuais?

Enfim, só para lembrar, reproduzimos aqui um artigo de maio de 2010, de Pedro Venceslau publicado na Revista Fórum. Ah, e de quebra há ainda uma excelente entrevista sobre o ECAD (o poderoso Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) com o produtor musical Tim Rescala. 

Aliás, você sabia que, de acordo com a lei vigente, um exemplar único de uma obra rara de alguma biblioteca, não pode ser xerocado, ainda que esteja sendo devorado por traças?

A ministra rompe o silêncio...

Bizarro, não é mesmo?! Então aproveite a sua a leitura!

PROPRIEDADE QUASE ILIMITADA
Por Pedro Venceslau
Revista Fórum, maio de 2010


A melhor maneira de entender o debate sobre a reforma da lei autoral no Brasil é fazer um jogo de “pode ou não pode”. Escutar música no IPod? Não pode. A cada música que você escuta no seu aparelho, dois crimes estão sendo cometidos: um por baixar no computador e outro por repassá-la ao aparelho. O máximo permitido é ouvir pequenos trechos ou ficar só no refrão. Fazer xerox de livro na Faculdade, pode? Poder, até pode, mas só um pedacinho. A questão, nesse caso, é: o que se entende por um pedaço? Varia, dependendo do interlocutor.

Para a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), por exemplo, trata-se de questão altamente filosófica, do tipo ser ou não ser. Uma simples página pode extrapolar o limite de “pequeno trecho” se ela contiver a essência do pensamento do autor. Mas e as outras 199 não extrapolam? Há quem seja mais específico e defenda que 10%, 20% ou até menos da metade do livro possa ser copiado sem grandes prejuízos. Pelo sim, pelo não, a associação acima citada promoveu uma ofensiva contra centros acadêmicos e copiadoras. Resultado: por medo, muitos simplesmente deixaram o negócio ou passaram para a ilegalidade. Um adendo: livros de autores como Platão e Sócrates podem ser copiados integralmente, já que caíram em domínio público. O difícil é listar isso.
  
E exibir um filme em sala de aula para os alunos, pode? Não, não e não. Nem mesmo os cursos de cinema podem mostrar filmes sem pagar uma taxa ao Ecad, o poderoso Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Fazer adaptações teatrais na escola, pode? Pode, mas só dentro dela. Recentemente, uma escola pública decidiu transferir sua peça de fim de ano para a praça em frente, com intuito de que houvesse mais espaço para os pais. Receberam então uma visita do Ecad exigindo que fossem pagos direitos autorais. Música no dentista? Na academia? Na festa junina? Nada feito. A lei de direitos autorais em vigor no Brasil é uma verdadeira caixa de surpresas. Enquanto algumas destas distorções são decorrentes da velocidade alucinante do desenvolvimento das novas tecnologias, outras estão instaladas na sociedade devido à força do lobby da indústria. Para corrigir ambas, o Ministério da Cultura lançou, em 2007, uma ofensiva, que começou com o Fórum Nacional de Direito Autoral, e vai terminar com apresentação, para consulta pública, de um novo projeto de lei. No meio do caminho, o Minc promoveu mais de 80 reuniões e envolveu, direta e indiretamente, 10 mil pessoas no debate. Fórum ouviu especialistas, artistas e membros do governo para entender o que vai mudar e onde estão os nós da nova lei.

 

Entre o certo e o duvidoso O cerne da questão é quem está faturando com o quê. Comecemos com o caso do xerox. A ideia do projeto de lei do Minc é seguir o padrão europeu. Quem explica é Marcos Alves de Souza, diretor de direitos autorais do ministério: “Vamos resolver esse assunto na consulta pública e o consenso está muito distante. As editoras e a ABDR, por exemplo, não vão querer que deixem copiar nada. Por outro lado, a UNE e a Academia vão querer copiar tudo de graça. O que a gente quer propor é que a cópia possa ser feita para uso privado. Mas, se tiver um intermediário que ganha dinheiro com isso, é justo que ele remunere o autor. Para isso, seria criada uma gestão coletiva de direito reprográfico. Vou poder xerocar o livro todo, mas o dono do xerox terá que pagar uma taxa”. Ou seja: o xerox vai acabar ficando mais caro para o aluno? “Vai, mas é muito pouco. Isso não inviabilizou o xerox no resto do mundo. É um valor irrisório, na casa dos dois centavos”, conclui.
  
O que ocorre hoje é que o dono do xerox vive um dilema. Em várias universidades não se pode copiar nada, nem um pequeno trecho. Ou eles atuam na legalidade ou mudam de ramo. Outro ponto importante é que será permitido copiar integralmente discos ou livros que estejam com a edição esgotada, ou fora do catálogo e do mercado por um prazo de cinco anos. Já o caso do IPod será diferente. Pelo projeto, baixar música deixa de ser crime e ponto final. Mesmo aí há quem discorde. Em alguns países cobra-se uma pequena taxa extra de direito autoral na hora da compra do aparelho e, depois, repassa-se o lucro através de uma entidade de gestão. “A diferença em relação ao xerox é que no IPod você não usa intermediário. Ninguém está faturando com isso. Trata-se de uso privado, a não ser que você dê uma festa, use as músicas e cobre ingresso”, diz Marcos Souza.

Outro aspecto importante do projeto é regular a relação entre o criador da obra e a indústria do entretenimento. “A nova lei vai resolver algumas lacunas e problemas de redação da lei atual. Sempre se pensa no criador como alguém que fica em casa, produzindo, mas, hoje, grande parte do mercado trabalha com obra sob encomenda, especialmente na área publicitária. São jingles, filmetes e slogans. Isso está muito mal regulado. A lei é muito dependente de contrato, e a gente sabe que muitas vezes não se faz contrato”, explica Manoel Pereira dos Santos, professor e coordenador do curso de especialização em propriedade intelectual da FGV.

Um exemplo hipotético. Uma agência de publicidade contrata um músico para produzir um jingle para a Coca-Cola. A quem pertence o direito dele? Há muita discussão sobre isso e, como a lei não fala nada, faz-se um contrato. “O projeto vai definir isso e regular. Uma boa regra seria que, se a empresa contratou o músico e ele fez o jingle, então pode usar sempre em suas campanhas, mas não em outros produtos. O ministério deu a entender que vai regular nesse sentido: se eu encomendei, então uso só para isso. Com a internet e a difusão maior das obras isso se agravou. As obras circulam muito mais. Virou um problema sério”, diz o professor da FGV. A nova lei deve, ainda, definir regras claras para as chamadas “obras orfãs”, que é quando não se consegue localizar o autor, nem os herdeiros. Quem se arrisca a usar o material nessas circunstâncias corre o risco de ser acionado na Justiça a qualquer momento. “Nesses casos, vamos atuar para evitar abuso de direito. A ideia é criar a licença não voluntária. No caso de abuso de direito, o prejudicado pode apresentar uma denúncia. Mediante um processo legal, se estabelecerá uma licença tendo como base os usos e costumes. O poder público vai definir”, explica o representante do ministério.

Muitos intelectuais lamentaram que o projeto de lei não tenha avançado em um ponto: o tempo que uma obra demora para cair em domínio público. A lei prevê 70 anos depois da morte do autor. “Isso quer dizer o seguinte: se o autor faz a obra aos vinte e morre aos noventa, são 140 anos de espera. É uma duração completamente desproporcional. Eu gostaria que isso fosse revisto. É preciso pensar em outras formas esses prazos. Mas em Portugal também é assim por imposição da Comunidade Europeia. Isso, aliás, foi uma consequência negativa da integração ao mercado comum europeu”, lamentou para Fórum o professor J.Oliveira Ascensão, especialista em direito autoral, catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa e considerado o papa desse tema na Europa. “Não vai mudar o tempo de domínio público, que é de setenta anos. Isso seria uma guerra. Haveria muitos problemas para implementar”, conclui Marcos Souza.
 
 E a vida no Ministério era tão boa. 
Todo dia era dia de alegria: có, có, có, có, có, có!!!

Polêmica à vista Trem da alegria, empreguismo estatal, estatização do direito autoral. Antes mesmo do projeto de reforma da lei ter sido enviado para consulta pública, o Ecad já havia preparado um arsenal retórico para combater a mudança. Para quem não o conhece, trata-se do poderoso Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Apesar de ser uma sociedade civil de natureza privada, é ele que controla a arrecadação e a distribuição de recursos provenientes de direito autoral no Brasil. A revolta se deu porque o ministro da Cultura Juca Ferreira ousou mexer em um vespeiro. A redação da nova lei prevê a criação do Instituto Brasileiro de Direito Autoral, um órgão público que terá a missão de fiscalizar e dar transparência ao trabalho das entidades arrecadadoras. A fim de organizar a ofensiva, o grupo criou uma entidade, o Conselho Nacional de Cultura e Direitos Autorais. O objetivo, segundo eles, é “mostrar que a nova regulamentação eleva o risco de estatização dos direitos autorais e do sistema de arrecadação”.

O curioso é que foi justamente um deputado tucano, Bruno Covas, quem presidiu a CPI do Ecad da Assembleia Legislativa de São Paulo no ano passado. Depois de meses de investigação, a comissão concluiu que “os direitos autorais ligados à música estão em estado institucional anárquico em razão da falta de poder de normatização, supervisão e fiscalização do Estado”. Segundo o relatório final da CPI, esta "anarquia" permite ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) “exorbitar das suas obrigações financeiras, legais e estatutárias, dando origem a irregularidades e indícios de crimes como falsidade ideológica, sonegação fiscal, apropriação indébita, enriquecimento ilícito, formação de quadrilha, formação de cartel e abuso de poder econômico”.

Na prática, o escritório deixaria de operar como a CBF, por exemplo. E teria que dar satisfação ao Estado. “O que o Minc quer fazer é criar um órgão que opere como agência reguladora, como a Anac e a Anatel, que não substituem o Judiciário. Isso daria mais confiança e mais tranquilidade”, explica o professor Manoel Pereira, da FGV. “É mais ou menos isso, uma agência como a Anac. A diferença é que os aeroportos são do Estado e as obras não são nossas. São privadas e vão continuar sendo. Mas de fato é como ter um ente regulador. O Ecad vai fazer tudo como faz hoje, mas com regras e transparência. É preciso que a transparência seja um pilar, assim como é necessário definir quais critérios devem ser seguidos e que o pagamento corresponda ao efetivo uso da obra. É assim no mundo inteiro. Esse provavelmente será o ponto mais problemático do projeto”, pondera Marcos Souza, do Minc. “É uma vergonha. É o Estado interferindo naquilo que é um direito claramente privado”, protestou Roberto Mello, presidente da Associação Brasileira de Música e Arte (Abramus), durante ato no dia 8 de abril. Até o fechamento dessa edição, o projeto ainda não havia sido colocado em consulta pública (apesar de o prazo inicial do Minc ser meados de abril). Ainda assim o ministério aproveitou o I Seminário de Políticas Públicas para a Digitalização de Acervos Digitais, em São Paulo, para fomentar o debate. O Ecad, claro, faltou ao evento.

Curiosidades autorais Você sabia que...
Pela lei atual, um exemplar único de obra rara de uma biblioteca não pode ser xerocado, ainda que esteja sendo comido por traças?
Academias de ginástica e consultórios dentários são obrigados a pagar direitos autorais ao Ecad?
É proibido cantar músicas em lugares públicos?
A família de Vinícius de Morais liberou a obra para domínio público?


“O Ecad arrecada bem e distribui mal”

Além de pianista, arranjador e autor teatral, Tim Rescala é produtor musical da Globo desde 1988 e um dos profissionais mais requisitados desse mercado. Entre outros trabalhos, estão produções como “Hoje é dia de Maria”, “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total”. Crítico do Ecad, ele foi processado pelo escritório por tê-lo chamado de “caixa preta” em entrevista a um jornal. Nessa entrevista para Fórum, ele avalia (e defende) o projeto do Minc, além de passar a limpo o sistema de arrecadação de direitos no Brasil.
 
 Tim Rescala

Fórum – Você apoia a reforma de lei de direito autoral?
Tim Rescala – Essa reforma não só é oportuna como é urgente. E devia ter acontecido antes. O cenário atual se mantém há décadas e piorou com a revisão da lei em 1998. A lei brasileira é sui generis no mundo.

Fórum – Acha que o Ecad deve ser fiscalizado?
Tim – O Ecad arrecada bem e distribui mal. Todas as sociedades de gestão de coletiva do mundo têm supervisão estatal. No Brasil, por conta da revisão de 98 e em consequência de muito lobby, manteve-se o monopólio do Ecad na arrecadação e distribuição. Eles têm esse direito, por lei, e, ao mesmo tempo, não são fiscalizados. Trata-se de uma empresa privada. Essa situação é absurda. O governo tem a obrigação de fiscalizar. Se tem monopólio, tem que admitir fiscalização.

Fórum – Você recebe do Ecad todo dinheiro a quem tem direito?
Tim – Não recebo. Meu dinheiro foi tungado, assim como o de todos os autores do audiovisual. Desde 2001, meu recebimento foi reduzido em 1/12 avos.

Fórum – Como é sua relação com o Ecad hoje?
Tim – Eu disse, em uma entrevista ao O Globo, que o Ecad é uma caixa preta. Estou sendo processado por isso, mas também estou processando eles.

Fórum – Como funciona a arrecadação?
Tim – A Globo, por exemplo, tem um contrato com o Ecad. Ela paga (por ano) por todo o repertório. Dentro desse repertório estão as minhas músicas e a de todo mundo. Então a emissora tem direito patrimonial. Ou seja: não posso exibir em outra emissora, mas o direito autoral é meu. Cabe ao Ecad repassar isso.

Fórum – De quanto é esse contrato com a Globo?
Tim – Era de R$ 3,9 milhões. Mas (o Ecad) reduziu nosso recebimento.

Fórum – Por quê?
Tim – Porque a Globo e o Ecad estão brigando na Justiça. Eles pediram 2,5% do faturamento bruto da empresa. Funciona assim: o Ecad pede o quanto quiser. Aí começou a briga jurídica e a Globo passou a pagar em juízo. Mesmo assim, eles conseguem receber 90% do dinheiro. Só que estão pagando 12 vezes menos que em 2001.

Fórum – Como é formado o Ecad?
Tim – Por dez sociedades (de autores). Seis são efetivas e quatro não têm direito a voto. A lei exige que seja assim. As sociedades competem entre si, oferecem adiantamento para o autor sair de uma ir e para outra. Acusam-se mutuamente de aliciamento. Vivem se acusando de ilícito criminal. É um dinheiro muito fácil de ganhar. Os autores não têm como reclamar. Manda mais quem arrecada mais. Antes, a Abramus era mínima. Ela foi fundada por Wilson Sandoli, da Ordem dos Músicos de São Paulo. Pesquise no Google para saber quem ele é... Hoje, a Abramus é a mais forte.

Fórum – O Ecad diz que a nova lei se caracteriza por intervenção estatal e empreguismo...
Tim – Eles querem caracterizar como intervenção estatal, mas isso é desviar do cerne da questão. O autor prejudicado vai reclamar a quem? Ao Estado ou a uma empresa privada? O que o Estado vai fazer é fiscalizar. É um dever. Tem que fazer isso. Quem paga reclama que paga muito, como a Globo, e quem recebe, reclama que recebe pouco. Tem algum erro aí, né? Já o Ecad sempre comemora recorde de arrecadação. Compositores de nome passaram ou passam dificuldade como o Johnny Alf, o Walter Alfaiate.

Fórum – O que mudou na relação entre os autores a as gravadoras com o fenômeno da internet?
Tim – As gravadoras que não se interessavam por direitos autorais passaram a se interessar, com o fenômeno da internet e do download, que abalou muito o mercado. Eles perderam muito dinheiro. As gravadoras hoje em dia se ocupam muito de empresariar o artista. Antes, o dinheiro principal deles era com venda de discos. Hoje, é com direito autoral. Os contratos são leoninos e para a vida inteira. São perenes. O autor, que normalmente está sem dinheiro, recebe um adiantamento que nunca consegue pagar. Então passa a vida preso à editora-selo, que pode ou não divulgar sua obra. Existem casos em que o autor libera o direito para uma obra didática, por exemplo, mas a editora não. O autor nunca se nega quando tem fundo educacional. Mas a editora não abre.

Fórum – Como era essa relação antes?
Tim – Os empresários dos artistas não eram necessariamente ligados a gravadoras. Hoje, são. Elas estão fazendo o papel dos empresários. Estão tentando sobreviver de alguma forma. Eles viram que no direito autoral circula muito dinheiro.

Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum 86, de maio de 2010

"...Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça..."


03/04/2011

Em breve, novidades no blog...


Estamos passando por alguns reparos...

27/02/2011

Mas ééé Carnaval...

Apesar de tudo, junto com o carnaval vem aquela tristeza.... de saber que daqui a pouco começa o intervalinho sofrível até o ano novo. Mas ééé Carnaval....

Piratas do Tietê e Jacaré pulando carnaval ao som do Chico!

Então, o mínimo que podemos fazer é exercer nosso direito à luxúria e ao entorpecimento, "balançando as cadeiras", "arrastando as sandalhas" e aquecendo os tamborins para o inferno se instaurar na Terra:  É CARNAVAL NA GOZOLÂNDIA!..... E, como todos sabem ,não existe pecado ao sul do Equador. Então, todo mundo rebolando e suando o cóccix!

 Hey, gringo! Let's have some balaco-baco of boleco-teco! In Brazilian's FUCK we trust!



Eu realmente amo esse país....!
"...os dias sem sol raiando e ela inda está sambando
Ela não vê que toda gente, já está sofrendo normalmente
Toda a cidade anda esquecida, da falsa vida, da avenida
..."

Divirtam-se, foliões, com uma sonzera de primeiríssima categoria! Aproveite logo pois esses links expiram meio rápido (ou seja, o blogspot remove a publicação).

LUXO E GLAMOUR PARA AS MASSAS....

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL - Bateria Nota 10 (1975)
Para quem nunca ouviu falar, isso se chama samba. Repitam comigo: SAM-BA! Mestré André (José Pereira da Silva, 1938-1980) comanda a Bateria Nota 10 da Mocidade Independente e nos presenteia com uma das batucadas mais fodas já registradas em vinil. É sério! Mesmo se você for um daqueles sujeitos ruins da cabeça ou doentes do pé, com esse LP você vai sair por aí rebolando e suando o cóccix. 
Clique embaixo da capa ilustrada por Júlio Guerra e vá se preparando pro carnaval!

SAMBA À PAULISTA  - fragmentos de uma história esquecida (2007)
Documentário irado de Gustavo Mello sobre algumas histórias esquecidas a respeito do samba de São Paulo. Foi exibido na TV Cultura algumas vezes. Por meio de um extenso e inédito trabalho de pesquisa, o filme recupera personagens, músicas e arquivos do samba paulista, dando um panorama dessa importante manifestação popular que estava sendo esquecida. 

 Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Largo do Paiçandu

Com a participação de personagens importantes dessa história como Toniquinho Batuqueiro, Oswaldinho da Cuíca, Evaristo de Carvalho, Dona Lola e Tio Mario e arquivos raros como o de Dionísio Barbosa, Henricão, Geraldo Filme e Inocêncio Tobias, "Samba à Paulista" reúne fragmentos que contam como essarica cultura, muitas vezes marginalizada, tem identidade e tradições próprias. 

 Tambu de Piracicaba

Um sotaque singular, que vem dos batuques do interior e chega na nova geração de sambistas. Veja tudo isso clicando nos links abaixo


E como nem só de samba vive o carnaval....


Ska & Skinhead Reggae (A CORTIÇA)
Para os fãs da tradicional música jamaica, eis uma compilação de algumas boas pedradas de Ska e Skinhead Reggae. 115MB do melhor rude boy style. Aqui você encontra Skatalites, Roland Alphonso, Don Drummond, Symarips, Upsetters e vários outros. Vale sempre lembrar que a melhor fonte de informações e discos desse estilo musical é o blog You & Me on a Jamboree. Vale a pena acessar! Fantastic!. 
Enquanto isso, clique no link abaixo da imagem e relembre os velhos tempos!

Ska & Skinhead Reggae – A CORTIÇA 

BURNING  SPEAR – Living Dub Vol. 02 (1980)
Sendo o segundo de uma série de seis álbuns de dub versões, em Living Dub Vol. 02 Winston Rodney ("Burning" era o nome do grupo, mas recaiu sobre ele) se diverte juntamente com Aston "Family Man" Barrett, Nelson Miller, Junior Marvin, Tyrone "Organ D" Downie, Earl "Wire" Lindo, Herman Marquis, Bobby Ellis, Egbert Evans.... precisa dizer mais? 
Clique no título do álbum de receba essa bigorna no cérebro.

BURNING  SPEAR – Living Dub Vol. 02 (1980)


Surf Music (A CORTIÇA)

Para quem está imaginando aquelas musiquinhas havaianas de luau de filme hoolywoodiano, esquece! Aqui você encontrará uma seleção de 175MB do que há de melhor na surf music de todos os tempos. Sonzera acelerada de grandes nomes como Dick Dale, Surfaris, Trashmen e até mesmo Al Hirt (que de surf não tem nada). 

Na foto abaixo, meu antigo comparsa Carlão em mais um dia duro de trabalho honesto no escritório em El Salvador. Clique no link embaixo dessa imagem e se prepare para um reverb melhor que o outro.



CANNONBALL ADDERLEY- Somethin' Else (1958)
Julian "Cannonball" Adderley, Miles Davis, Art Blakey, Hank Jones e Sam Jones estão juntos nesse histórico álbum do mais fino jazz. Sabe aquele seu Blue Label guardado para ocasiões especiais.... esse disco é uma ocasião especial. 
Chame os amigos, clique no título do álbum e noooossa....


Feliz 2011... Estamos contando os segundos à espera do próximo reveillon....

13/02/2011

O Egito está na TV

Em sua luta sagaz contra as forças do mal que imperam na galáxia, A CORTIÇA se recusa a voltar de férias antes de março! RÁ, é isso mesmo! Deixem a produtividade para os produtivos!

No momento, estamos muito ocupados tentando entender acomplicada situação do mundo (... na verdade, estamos revendo todas as temporadas de House, hehe). [aliás, nosso último post com mais de 1Giga de música foi sumariamente censuardo.... mas resolveremos isso em breve]

Porém, irmãos e irmãs, não podemos ignorar o EGITO! Terra de gente bonita! Terra em que o carnaval de fevereiro é bem mais empolgante que o nosso. Terra, enfim, onde o povão na rua conseguiu acabar com 30 anos de ditadura de Hosni Mubarak. Claro! Sabemos que não é simples assim, mas convenhamos: foi o evento mais empolgante na política internacional e mobilização popular dos últimos tempos!

Venha passar suas férias no Egito!!!
Que tal uma tarde tranquila no centro do Cairo...

E já que é assim, para não passarmos em branco, elencamos aqui n'A CORTIÇA alguns artigos "da pesada" sobre a situação atual do Egito. Ei-los!

O FRACASSO DO LEOPARDO
De Antonio Luiz M. C. Costa

"O plano a, repressão policial e militar pura e simples, não funcionou. O povo não se intimidou com jatos d’água, cassetetes, balas de borracha e gás lacrimogêneo. Segundo jornalistas do Wall Street Journal, Hosni Mubarak ordenou ao ministro do Interior, general Habib al-Adly, atirar nos manifestantes para matar, mas o assistente militar deste, o general Ahmed Ramzy, recusou a ordem.

[...]

A proposta de uma 'abertura lenta e gradual' ao estilo dos generais Geisel e Golbery só teria esperança de funcionar se fosse oferecida antes que as massas estejam de fato nas ruas exigindo cabeças – como aconteceu no Brasil, Chile e Uruguai, mas não, por exemplo, na Argentina. Em vez de desmobilizar os protestos, a oferta soou como insulto e os acirrou. Muitas das principais forças de oposição recusaram-se a dialogar dentro desses limites e as manifestações tomaram novo ímpeto em 8 de janeiro, voltando a encher a Meydan Tahrir (Praça da Libertação) e transbordando para as ruas vizinhas."
Leia o artigo completo aqui.

... Noites quentes, repletas de magias e mistérios...

TOMBANDO O AUTOCRATA
De Tariq Ali

"A remoção de Mubarak por si só (e levando o grosso dos seus US$40 mil milhões saqueados do tesouro nacional), sem quaisquer outras reformas, seria considerada na região e no Egipto como um enorme triunfo político. Isto colocará novas forças em movimento. Uma nação que testemunhou milagres de mobilizações de massa e uma enorme ascensão na consciência política popular não será fácil de esmagar, como o demonstra a Tunísia.

[...]

Omar Suleiman, um velho favorito do Ocidente, foi seleccionado por Washington como vice-presidente, endossado pela UE, para supervisionar uma 'transição ordeira'. Suleiman sempre foi encarado pelo povo como um torturados brutal e corrupto, um homem que não só dá ordens como também participa no processo. Um documento da WikiLeaks contem um antigo embaixador dos EUA a louvá-lo por não ser 'melindroso'. O novo vice-presidente advertiu as multidões de manifestantes terça-feira passada que se não se desmobilizassem voluntariamente o exército estava à espera: um golpe podia ser a única opção restante. Foi ela, mas contra o ditador que eles haviam apoiado durante 30 anos. Era o único meio de estabilizar o país. Dali não podia haver retorno à 'normalidade'."

Leia tudo aqui.

... Um povo caloroso e muito receptivo a novas idéias...

EGITO: UMA DITADURA NOS ESTERTORES DA MORTE
De Robert Fisk

"Os soldados que conduzem os tanques, em uniforme de combate, sorridentes e às vezes aplaudindo os passantes, não fizeram qualquer esforço para apagar das laterais dos tanques os graffiti ali pintados com tinta spray. 'Fora Mubarak! Vai-te embora, Mubarak!' e 'Mubarak, o teu governo acabou' aparecem grafitados em praticamente todos os tanques que se vêem pelas ruas do Cairo. Sobre um dos tanques que circulavam pela Praça da Liberdade, vi um alto dirigente da Fraternidade Muçulmana, Mohamed Beltagi. Antes, andei ao lado de um comboio de tanques próximo de Garden City, subúrbio do Cairo, onde as multidões subiram aos tanques para oferecer laranjas aos soldados, aplaudindo-os como patriotas egípcios. A nomeação ensandecida e sem sentido de um vice-presidente [o primeiro, em 30 anos, e nomeação que significa que Mubarak desistiu de nomear o filho para substituí-lo no poder (NTs)] e a formação de um 'novo' Gabinete sem poder algum, constituído só de velhos conhecidos dos egípcios, evidenciam que as ruas do Cairo viram e vêem o que nem os estrategistas e políticos dos EUA e da União Europeia souberam ver: que o tempo de Mubarak acabou."

Leia a íntegra aqui.

... Egito: desde os tempos antigos nos ensinando que quem planta, colhe!

07/12/2010

Estados Unidos e Wikileaks: a democracia fugiu de controle?

Artigo de Izaias Almada, retirado do Escrevinnhador: www.rodrigovianna.com.br

Um curioso artigo do jornalista espanhol Pascual Serrano publicado em “El Periódico de Catalunya” e reproduzido no site www.rebelion.org levanta uma questão interessante provocada pelos milhares de telegramas vazados pelo site Wikileaks na internet, mas que – de algum modo até intrigante – ultrapassa a polêmica criada na imprensa mundial diante do volume e do conteúdo ali exibidos.

Diz Serrano na introdução do seu texto que o fenômeno Wikileaks tem monopolizado numerosas análises e reflexões sobre o futuro da informação, da internet e da própria difusão de notícias. É natural. Como o direito à informação e à liberdade de imprensa se constituem em pilares, entre outros, da democracia tal qual a conhecemos e é praticada em boa parte do mundo ocidental, chama a atenção o fato de que parece se configurar com maior nitidez uma verdade que a hipocrisia de muitos ‘democratas’ procura esconder e maquiar há algum tempo: afinal existem informações e… informações. Como também existem concepções diferentes sobre a liberdade de imprensa.

Quando um país, como os Estados Unidos da América, apóia um golpe de estado contra um governo democraticamente eleito, o último exemplo é a deposição do presidente Manuel Zelaya em Honduras (mas a lista é imensa só nos últimos 50 anos), é justo encobrir ou negar essa informação? Em nome de quê? De quem? E a liberdade de imprensa onde é que fica? Os chamados segredos de estado só pesam em um dos pratos da balança?
 
  
Não é por acaso que o pensador e lingüista Noam Chomsky declara, a propósito dos recentes vazamentos no Wikileaks, que os governantes norte americanos tem profundo desprezo pela democracia, essa mesma da qual se orgulham e querem impor ao mundo através da força.

Muito a propósito, vejamos as recentes declarações do atual embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, em artigo escrito para o jornal Folha de São Paulo no dia 2 de dezembro passado: “O presidente Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton decidiram dar prioridade à revigoração das relações dos EUA no mundo. Ambos têm trabalhado com afinco para fortalecer as parcerias existentes e construir novas parcerias no enfrentamento de desafios comuns, das mudanças climáticas e da eliminação da ameaça das armas nucleares até a luta contra doenças e contra a pobreza.

Obedecendo à orientação de Washington para minimizar os telegramas wikis, o blá, blá, blá retórico de Thomas Shannon é vazio de significado prático e recheado de conteúdo cínico. No contexto da América Latina, quais seriam esses desafios, senhor embaixador? O combate ao narcotráfico, por exemplo? Mas qual é o maior país consumidor de drogas pesadas no mundo e, portanto, grande sustentáculo do narcotráfico internacional, segundo relatórios da ONU? Os Estados Unidos da América. Qual o volume de dinheiro do narcotráfico branqueado em bancos norte americanos? Em termos mundiais, já ultrapassa a casa dos 400 bilhões de dólares por ano.

Quanto às mudanças climáticas, é sabido que até a presente data o país do Sr. Shannon ainda não assinou o Protocolo de Kyoto, criado em 1997 com o objetivo de reduzir a produção de gases poluentes, sendo os EUA o país que mais polui o meio ambiente mundial. Dispenso-me de comentar sobre o cinismo da “eliminação da ameaça de armas nucleares”. Repito aqui apenas a velha e surrada pergunta: por quê os EUA não dão o exemplo e começam a destruir o seu próprio arsenal nuclear? Sobre a luta contra a doença e a pobreza, o Sr. Shannon deveria olhar para dentro de seu próprio país e ver os estragos causados no sistema de saúde privatizado, tão bem avaliado pelo cineasta Michael Moore; ou avaliar o atual nível de desemprego e pensar nos imensos guetos de miséria espalhados pelo país, sobretudo entre afros descendentes e hispânicos.

 
O ainda referido artigo publicado na FSP é uma catilinária de parvoíces, eivada de frases vazias, mas sempre com aquela pontinha de arrogância com a qual os “nossos irmãos do norte” se acostumaram a tratar o mundo. Prestem atenção nessa simples e emblemática frase do embaixador norte americano no Brasil sobre os telegramas do Wikileaks, eivada de arrogância e ‘espírito democrático’: “Uma ação cuja intenção é provocar os poderosos pode, em vez disso, pôr em risco aqueles que não têm poder.” Ou seja: nós, os poderosos (leia-se EUA), se provocados, podemos pôr em risco os que não tem poder (o resto do mundo).

Mas é exatamente isso o que seu país já faz, senhor embaixador, com ou sem o Wikileaks. Como é que ficam os assassinatos de civis no Afeganistão e no Iraque? Quantos idosos, mulheres e crianças já morreram para receber (custa-me mais uma vez engolir o cinismo) a velha e empoeirada democracia de Abraham Lincoln? O que significa enviar dez mil soldados armados até os dentes para uma ajuda humanitária ao Haiti?
Volto agora ao jornalista Pascual Serrano. Sobre o debate entre defensores e críticos para saber se o site de Julian Assange comete uma irresponsabilidade com a e circulação de informação secreta, o jornalista espanhol considera que há uma simplificação do tema e que o modus operandi do próprio Wikileaks vem demonstrando que o assunto é mais complexo.

Serrano, sem mostrar duvidas quanto à veracidade dos tais telegramas, levanta a enigmática hipótese de se saber a razão pela qual, de início, o Wikileaks ofereceu de forma privilegiada e com exclusividade 250.000 documentos a cinco grandes meios de comunicação mundial, The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e El País. Tais órgãos de informação divulgaram em seguida que tinham “autonomia para decidir sobre a seleção, valoração e publicação das informações que afetassem a seus países (EUA, Grã Bretanha, Alemanha, França e Espanha).

Portanto, e ainda segundo Serrano, a conivência entre o Wikileaks e o cartel criado entre esses cinco órgãos de comunicação, é absoluta. E conclui: “Não sei se a origem do site Wikileaks era limpa e honesta. O que parece claro, contudo, é que está se convertendo num objeto domesticado, a ponto de o primeiro ministro de Israel Benjamim Netanyahu afirmar que os documentos dão razão ao seu governo ao valorizar a ameaça iraniana”.

 
Os vazamentos Wikileaks significariam o simples desnudamento da diplomacia de intimidação e espionagem colocadas em prática por Washington, tornando explícito para o mundo aquilo que muitos já sabiam ou desconfiavam? Criam constrangimentos para o complexo industrial/militar e as grandes corporações capitalistas ou, ao contrário, significam uma nova e sofisticadíssima forma de contra-informação digna de um filme de Hollywood?

O atual líder republicano no senado norte americano, Mitch McConnell, declarou em entrevista para a rede de televisão NBC que Assange é “um terrorista de alta tecnologia”. O dano causado aos EUA é enorme e, segundo o senador, Assange deve ser julgado com todo o peso da lei. Se por acaso isso causar problemas legais, “muda-se a lei”, completou McConnell. Parece que desde a eleição de Bush filho, quando se fraudou a lei no estado da Flórida para sua eleição, ou mesmo bem antes, quando John Kennedy foi assassinado, a democracia norte americana vem mudando algumas de suas leis a fim de se manter como sendo a democracia exemplar para o resto do mundo.

Ainda é cedo para maiores projeções nessa ou naquela direção sobre os telegramas wikis ou sobre o papel representado por Julian Assange. Uma coisa é certa. A pergunta que se configura aos poucos e que o confronto entre a força avassaladora da nova informação eletrônica e a da velha mídia mundial a serviço do poder hegemônico do capitalismo nos coloca é a seguinte: a democracia representativa burguesa está fugindo ao controle de quem a tutela?

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, autor – entre outros – do livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência” (Boitempo) e “Venezuela povo e Forças Armadas” (Caros Amigos).

 

06/12/2010

Rio de Janeiro: quem ganha com a guerra?

O Rio de Janeiro acaba de passar por mais um triste e violento episódio de violência urbana. As favelas do Complexo do Alemão, da Vila Cruzeiro e seu entorno acabam de ser reconquistadas pelo Estado fluminense. Matando algumas dezenas de pessoas (todas taxadas como criminosos perigosos), desrespeitando direitos humanos e constituicionais e impondo um regime de medo sobre a população local, a operação foi considerada um sucesso pela mídia e grande parte da população que assisitu a tudo pela TV.

Os mesmos alvos de sempre

É sempre bom ressaltar o que afirmou Nancy Cardia, do Núcleo de Estudos de Violência da USP : “Você não espera que o Estado não domine áreas de uma capital de Estado que já foi capital da República! Tanque da Marinha, helicóptero da Aeronáutica, tropas do exército para ajudar uma polícia a recuperar o Estado, para mim indicam que alguma coisa fracassou!"

Agora que a poeira assentou (ou seja, dá para ligar a TV e ver outra coisa passando), A CORTIÇA também gostaria enfia seus dedos gordos nas feridas abertas.

BRINCANDO DE MOCINHO E BANDIDAGEM

Para um breve histórico desse recente "combate à violência no Rio de Janeiro", vale a leitura do artigo de Bruno Lima Rocha, "A Ação Bélica no Estado do Rio de Janeiro" (basta clicar no link).

Não é a primeira vez que as Forças Armadas atuam de forma tão espetacularizada sobre o Rio.  Entre novembro de 1994 e maio de 1995, no fim do Governo Brizola (PDT) e início do Governo Marcello Alencar (PSDB), ocorreu a "OPERAÇÃO RIO", na qual inúmeras favelas foram ocupadas pelas Forças Armadas, policiais militares e civis do Rio de Janeiro, com a justificativa de acabar com a violência e o narcotráfico no Estado... Será que funcionou? E agora, no que será que vai dar?


Já era um fato conhecido que seria necessário transformar o Rio em um Estado policial por conta da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. O mesmo já foi feito para os Jogos Pan-Americanos de 2007, na cidade de Rio de Janeiro. Não se lembra? Então acesse esse link do Centro de Mídia Independente sobre o Pan-2007, refresque sua memória e, sim, fique muito assustado de ver o que nos aguarda!


Portanto, que Estado iria tratar o cidadão (sobretudo o pobre) como "supeito" já era conhecido. A surpresa talvez seja o fato de ter acontecido agora,  ainda em 2010, passado apenas um mês das eleições presidenciais. O que será que aconteceu?

É muito diíficil acreditar na versão que vai para a imprensa sobre a origem dos ataques no Rio. Foi apresentado ao Brasil que alguns dententos do Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Catanduvas, no oeste do Paraná (uma das quatros penitenciárias federais construídas para receber os criminosos  considerados como mais perigosos do país), em pleno contato com traficantes Comando Vermelho (CV), aliados a setores da Amigo dos Amigos (ADA), insatisfeitos pela perda de territórios às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), conseguiram dar ordens para que se iniciasse uma série de ataques na cidade do Rio de Janeiro. 

Mesmo Luiz Eduardo Soares, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, conhecido do grande público por ser um dos co-autores dos livros "Elite da Tropa" e "Elite da Tropa vol2" (isso mesmo, os que geraram os dois filmes "Tropa de Elite"), rejeita essa versão dos fatos. Em entrevista concedida ao programa Roda Viva (de 29 de novembro), da TV Cultura, contesta essa motivação dos ataques e faz outras explicações extremamente esclarecedoras sobre a violência urbana do Rio de Janeiro. Veja abaixo


E foi isso! Do domingo de 21 de novembro até a quarta-feira de 1º de dezembro,  um total 105 veículos foram incendiados. Além disso, cabines da PM atacadas e uma viatura da Aeronáutica metralhada. Bom, "era a brecha que o sistema queria. Avisa o IML, a mídia, avisa todo mundo: chegou o grande dia". Então, tendo como como motivação os ataques, começaramos preparativos para os eventos esportivos de 2014 e 2016.

MAS QUEM LUCRA COM ESSA GUERRA?

O modelo de tráfico estabelecido no Rio de Janeiro está e franco declínio. Já não funciona mais da mesma forma e nem consegue manter a estabilidade econômica de outros tempos. Perde espaço para as milícias (que atuam em áreas muito além do narco-tráfico). 

Para Luiz Eduardo Soares: “o modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. 

"Bem amigos da Rede Globo, falamos ao vivo diretamente do reality-show da Vila Cruzeiro, 
onde tem gente fuzilada, pé na porta de barraco e tudo para agradar a você da zona sul carioca"

É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.”

Então, se há guerra, é porque há alguns setores da sociedade que tiram muito proveito dela. Acima de todos o Estado e a mídia corporativa. E ambos unidos para favorecer as elites (que, claro, controlam ambos).

Nos principais canais de TV (Globo, Record, SBT, enfim esses aí) as ações policiais eram transmitiadas ao vivo. Em tempo real, você poderia ver repórteres com coletes à prova de bala participando das incursões militares e policiais sobre o a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Os repórteres corriam junto com os policiais, deitavam e rolavam no chão quando ouviam tiros, corriam atrás dos tanques da marinha, etc, esptáculo, etc, espetáculo! Violência na TV (sobretudo no bairro dos outros) é sempre um bom programa de domingo!


As revistas semanais (Veja, Época, IstoÉ) unificaram seus discursos e suas capas (exceção honrosa à Carta Capital que, em vez do espetáculo, preferiu falar sobre a saída de Henrique Meirelles do Banco Central... você sabe, um evento aí sem qualquer importância!).

A mídia FDP ... ou seja, falta de pauta

Não apenas unificaram suas capas, mas também o seu conteúdo extremamente paupérrimo, apresentando uma versão dos fatos onde, no Rio de Janeiro, está em curso uma guerra do bem contra o mal. Para Luiz Eduardo Soares: "a polaridade [polícias versus tráfico] esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la -- isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia -- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias."

Nessa linha de raciocínio, questionando a polariadade, Leandro Uchoas, do Brasil de Fato, faz uma excelente análise do confronto carioca no artigo "Guerra do Bem Contra o Mal?" (clique e leia). 

Em meio a tantas informações, sempre vem à memória o excelente documentário de Kátia Lund e João Moreira Salles: Notícias de Uma Guerra Particular (2005). Dá um panorâma muito amplo da guerra que ocorre no Rio de Janeiro relacionada com o tráfico de drogas. O destaque é para a entrevista do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Hélio Luz (bombástica)! Se ainda não viu, clique no nome abaixo e se prepare!


E, no momento em que a mídia corporativa investe nessa imagem das Forças Armadas e das polícias invadindo favelas, estourando casas, prendendo e matando, sabemos muito bem qual é o esteriótipo de bandido que os telespectadores e os assinantes da Veja querem ver mortos: preto, pobre, fodido!

OS DERROTADOS DE SEMPRE

Novamente recorrendo aos textos e às entrevistas de Luiz Eduardo Soares, ao tratar sobre a coexistência entre corrupção e abuso de autoridade na política, ele afirma: "É sistêmico! As instituições policiais estão produzindo essa brutalidade endêmica que é indissociável com a corrupção. No Rio de Janeiro, de 2003 a 2009, inclusive, foram mortas 7.854 pessoas por ações policiais. Mais de mil por ano. Nas pesquisas realizadas, mais de 65% caracterizam-se como execuções extra-judiciais. Esses números são escandalosos. São recordes mundiais. Num ambiente desse tipo [corrupto] quantas foram investigadas? Quem é que morre? É o negro, pobre jovem, que vive nessas áreas! Sempre! Será que isso é um caso individual? É um padrão institucionalizado que se reproduz"
 Há 500 anos, o mesmo estereótipo do marginal padrão 
larga e fartamente reproduzido na mentalidade nacional
Conforme afirmou na entrevista concedida à Carta Capital, Rubens Casara, Conselheiro e Coordenador do Núcleo do Rio de Janeiro da Associação Juízes para a Democracia (AJD), vê as reclamações de abuso policial com preocupação e afirma que demonstram uma crise de legalidade. Casara defende que a violação de preceitos da constituição pela polícia é incompatível com o regime democrático. "Agir dessa maneira significa duas opções:ou rasgamos a Constituição, ou acabamos com a hipocrisia e admitimos que a democracia não é para todos". Leia essa entrevista excelente neste link.

Ou seja, colocar as Forças Armadas contra a população assim como ocorreu na Ditadura Militar não tem nenhum problema para uma parcela considerável da sociedade, afinal, a vítima agora é o preto, pobre, fodido, morando na favela, esperando para aparecer na TV como "mais um maldito traficante morto"!
Em 2001, a psicóloga Cecília Coimbra, uma das fundadoras do grupo Tortura Nunca Mais e coordenadora da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, publicou um estudo chamado "Operação Rio – o mito das classe perigosas: um estudo sobre a violência urbana, a mídia impressa e os discursos de segurança pública" (Editora Oficina do Autor e Intertexto de Niterói). 
A pesquisadora analisa a intervenção do Exército no Rio de Janeiro, entre janeiro de 1994 e maio de 1995, e desarma uma série de mentiras da mídia corporativa. O primeiro deles é o de que a ocupação pelas Forças Armadas dos locais ditos perigosos acabaria com a violência urbana. E o que acontece na prática, segundo a autora, é que essa ocupação se volta contra a população pobre! Aos poucos a mídia vai preparando o espírito da população e abrindo o caminho para a intervenção das Forças Armadas, sobretudo em áreas carentes, o que aconteceria em novembro de 1994. Em janeiro desse mesmo ano, os jornais apresentavam como chamada de primeira página "Empresários querem Exército nos morros". Estava em curso a Operação Rio. E com o esquema já em andamento os jornais informavam com títulos como "Exército Comanda a Operação contra o crime", "Nova Fase da Operação vai corrigir erros" e assim sucessivamente. 
Fuzileiros Navais e policiais do BOPE invadindo o Complexo do Alemão
Por conta disso, a política de segurança atua contra a população pobre! Até o dia 02 de dezembro, a Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro já havia recebido 27 denúncias por parte de moradores da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão acusando os prejuízos provocados por policiais nas operações. Eletrodomésticos destruídos, desaparecimento de bens, roubo de dinheiro, invasão de domicílios e outras condutas consideradas ilegais ou abusivas pelos moradores foram, inclusive, noticiadas pela mídia.
Ocupação militar na rua dos outros (sobretudo porque os "outros" são pobres), ao vivo na TV, é refresco para muitos! Dos 51 mortos registrados desde o início dos ataques, quantos foram execuções sumárias?

DEFENDENDO A CAUSA PERDIDA

E não dá para encerrar o assunto antes de lembrar do seguinte: das cerca de 42 toneladas de drogas apreendidas na ocupação militar no Complexo do Alemão, cerca de 38 toneladas eram apenas de maconha. O resto era LSD, cocaína, lança-perfume, etc.

Se fosse legalizada, haveria essa guerra?

Quer dizer então que quase a totalidade do poder dos traficantes do Complexo do Alemão provinha da venda de maconha? Quer dizer então que se a maconha fosse legalizada todos esses "inimigos públicos" não teriam mais como ter poder de fogo?

Fato: o consumo da maconha não é tão danoso, ao indivíduo e a sociedade, quanto os efeitos do consumo do cigarro e do álcool!

Partindo desse pressuposto simples e lógico, sempre que você ver na TV (ou sentir na pele) problemas relacionados com violência urbana e tráfico de drogas, lembre-se de que se a maconha fosse legalizada, tais problemas seriam drasticamente reduzidos. Pense a respeito..... mas com cuidado!
A manutenção da proibição só é boa para quem continua lucrando com a guerra.