Passada a euforia de mais uma Virada Cultural, chegou a hora d'A CORTIÇA revirar seu estômago (mas não da mesma forma que revirou durante a parte do evento que ocorreu centro da cidade).
A Virada já é tida como o maior evento cultural da cidade de São Paulo. E, de fato, coloca mais gente para ocupar a rua que o carnaval. Por meio da Virada temos acesso a algumas apresentações que dificilmente pagaríamos menos de 300$ trocados para prestigiá-las. Além disso, dá uma boa visibilidade para diversos artistas que transitam fora do cricuitão mainstream e que sofrem para conseguir promover um pouco mais seu trabalho honesto. Mas há uns cabos dando curtos no meio de toda essa parafernália.
Polícia Militar sacode e balança ao som empolgante
dos Racionais na Virada Cultural de 2007
PÃO E CIRCO ROMANO NA BABILÔNIA PAULISTANA
Qual o sentido de concentrar tamanho número de apresentações artísticas e culturais em um único fim de semana? E o resto do ano, não é importante? Qualquer lógica menos eleitoreira descentralizaria a programação ao longo de meses de atividades culturais gratuitas disseminadas por toda a cidade para se complementarem, e não para conflitarem. Porém, concentrada num evento megalomaníaco panis-et-circenses que dura algumas horas, temos uma festa cujo único objetivo é dar a sensação de que a administração pública realmente investe em cultura (obviamente, reduzindo-a a um grande espetáculo faraônico).
Cresce ano após ano a verba da Secretaria Municipal de Cultura gasta com essa festa. De acordo com a
Folha, os programas da Secretaria (de manutenção de corpos artísticos a patrocínio) somam, em 2010, R$ 73 milhões. Estima-se que, desse valor, no máximo R$ 10 milhões se destinem à Programação. Ou seja, a Virada consome, em um dia, o que outras áreas têm para gastar no ano todo.
Como sabemos, a Virada desse ano foi uma das armas do prefeito
Kassab, o Sujo, para tentar reverter as
péssimas avaliações que seu governo sofreu no começo do ano de 2010. Vale dizer, aliás, que desde a sua
cassação a grande mídia não mais deu atenção ao prefeito.
Coincidentemente, essa mesma grande mídia corporativa, primando sempre por retratar os fatos de forma objetiva e imparcial, desde sua
reuniãozinha "Comando Delta" no Insituto Millenium, não mais fustigou o Kãossab como fez há alguns meses. Será que eles finalmente perceberam que isso pode
afetar o desempenho de Serra, o Terrível, na campanhas eleitorais? Inclusive, o longo do maio, obervamos o retorno de Kassab às campanhas publicitárias, com propagandas que mostram como que sua incrível administração pública foi resultado da parceira com Serra, o Terrível.
E é nesse cenário de filme de terror que se insere a Virada Cultural de 2010 (importantíssimo ano eleitoral). Duas semanas antes do evento, Kassab aumentou em 54% o gasto com a Virada aprovado pela Câmara Muncipal no fim de 2009. Inicialmente, o custo aprovado seria de R$ 5 milhões. Entretanto, por meio de um decreto do prefeito (publicado no Diário Oficial em 03 de maio), o valor foi alterado para R$ 8 milhões, um aumento de 78% em relação aos R$ 4,5 milhões gastos em 2009.
Portanto, a Virada deste ano saiu pela "bagatela" de
R$ 8 milhões. E não podemos esquecer de outra tacada certeira da gestão do Kassab: desse valor mencinado acima,
R$ 2,7 milhões foram retirados do dinheiro que seria utilizado para reformar a Praça Roosevelt (no centro). Sim! A Pça Roosevelt dos teatros e do abandono! A praça que a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) diz que vai reformar há 11 anos! A mesma praça em que no fim do ano passado quase mataram o
Mário Bortolotto e o Carlos Carcarah.
Praça Roosevelt detonada até mesmo para um rolezinho de skate
Na época da desgraça na praça, a prefeitura acionou o "
kit-tragédia" (traduzinho: anúncio vazio de medidas impactantes e midiáticas a serem tomadas imediatamente após alguma tragédia que comova a opinião pública, de forma a demonstrar que as autoridades públicas estão tomando as devidas providências). E, obviamente, assim como em qualquer momento em que o kit-tragédia é acionado, passado algum tempo não há qualquer problema resolvido. Ao contrário, ele é agravado. Retira-se R$ 2,7 milhões do dinheiro que seria utilizado para tentar solucionar uma percela do problema e se utilizam dessa verba para inflacionar as atividades em ano eleitoral
VIRADA CULTURALMENTE ELEITOREIRA
Em entrevista à
Folha, falando sobre a Virada, o secretário municipal de cultura, Carlos Augusto Calil, afirma que "
Não tem como associá-la a uma questão política". Ainda de acordo com o secretário, "
os políticos não sobem nos palcos. E nas campanhas para prefeito nenhum candidato falou em mudar ou não fazer a Virada."
Carlos Augusto Calil e Andrea Matarazzo trocando figurinhas carimbadas
Oras, desculpe se parecer muito ingênuo, mas se o evento não tem um caráter eleitoreiro, então o que estavam fazendo em um dos shows mais importantes da Virada desse ano (dos cubanos
Barbarito Torres e Ignacio Mazacote), sendo filmados pela TV Cultura, o prefeito Kassab, o próprio Augusto Calil e o novo presidente da TV Cultura, João Sayad, assistindo à apresentação na primeira fila?
Isso sem contar a atuação inusitada das pessoas contratadas para distribuir no centro da cidade os panfletos com a programação da Virada que, em vez de dizer "Amanhã, Virada Cultural" ao balançar o papel, girtavam "AMANHÃ, METRÔ DE GRAÇA".... Notável!
E, afinal, se realmente não tem caráter eleitoreiro, por que diabos
Serra, o Terrível, estava por lá fazendo campanha? Dizendo que, se for eleito, pretende implantar a Virada no país inteiro. Afinal, de acordo com o vampiro, "
a Virada leva cultura e mobiliza a classe artística, só aqui nesse evento são cinco mil artistas." Será que o
STE vai multar Serra, o Terrível, por fazer campanha eleitoral antecipada também?
SWING NA SECRETARIA DE CULTURA
Indo além dessa metrópole acabada, a Secretaria da Cultura do Estado acaba de trocar seu secretário. Até o final de abril, quem controlava a pasta era João Sayd. Como se sabe, Sayad nunca teve nenhum vínculo com a área cultural. Ex-presidente do Banco Inter-American Express, Sayad é doutor em Economia pela Universidade de Yale, professor pela FEA-USP. Ele foi ministro do Planejamento do Sarney, secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico da cidade de São Paulo e secretário da Fazenda na gestão Franco Montoro e do município de São Paulo durante a administração de Marta Suplicy. No ano de 2006, deixou a vice-presidência de Planejamento e Administração do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
E a cultura nisso tudo? Não há! Nunca houve. Apenas números, cifrões e, claro, muito lucro. E, após o singelo convite do governador da época, Serra, o Terrível, assumiu, em 2007, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. No final de abril, entretanto, Sayad decidiu sair da pasta para concorrer à presidência da Fundação Padre Anchieta, que controla a TV Cultura. E, obviamente, repleto de amiguinhos tucanos influentes,
Sayad tornou-se o atual presidente da Fundação Padre Anchieta. O que será que espera a Fundação agora? Fácil deduzir!
A CORTIÇA já tratou sobre a forma como ele controlou a Secretaria de Cultura do Estado, mas aviso desde já: tire as crianças da sala! Leia
aqui como privatizar e prevaricar o dinheiro público!
João Sayad batucando feliz da vida, pois agora controla diretamente uma emissora de TV
A
swingada foi a seguinte: quando o Alckmin ganhasse para governador de SP nas próximas eleições (já que não tem concorrentes) o Sayad ficaria desempregado, pois esses dois tucanos não se bicam. Aproveitaram então que o
Serra não se bica com o Markun e cortaram as asas desse outro tucano. E foi aí que o Sayad pode colocar suas asinhas tucanas de fora!
Mas então, quem ficou com a Secretária de Cultura do Estado? Oras, nesse
swing todo, o premiado foi ninguém mais, ninguém menos, que o digníssimo (espero que já tenha tirado as crianças da sala) empresário Andrea Matarazzo! E completando o quadro desse
swing, a adjunta do Matarazzo será a tucaníssima e televisia
Soninha Francine. Para o time ficar completo, só falta arrumar cargos para o Gilberto Dimenstein na Secretaria de Comunicação, para o Demétrio Manoli na Secretaria de Educação, e para o César Giobbi na Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo! Nessa seleção nem mesmo o Dunga pensou!
Socorrooo!!!
Mas e o Matarazzo? Poizé, ele é um dos principais quadros do PSDB. É administrador de empresas formado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). No setor público tucanou no cargo de Secretário de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo até 2009. Também foi Subprefeito da Sé (2005-07) e Secretário Municipal de Serviços de 2005 a 2006, sob a gestão de Serra, o Terrível. Exerceu o cargo de Embaixador do Brasil na Itália (2001-02) e Ministro-Chefe da Secretaria de Comunicação de Governo da Presidência da República (1999-2001), na presidência do ex-príncipe FHC.
Quando Kassab assumiu a administração municipal, Matarazzo perdeu muito de sua força. Sua relação com o prefeito, que nunca fora das melhores, deteriorou-se em disputas de poder interna à prefeitura, culminando na saída de Matarazzo da Secretaria das Subprefeituras em setembro de 2009.
Matarazzo na capa do boletim semanal do tucanato paulistano.
Ora acompanhado por Serra, o Terrível, ou por Arnaldo Jabosta,
Matarazzo sempre tomou cuidado com as más companhias
Ao longo de sua gestão no município houve permanentes conflitos ligados a sua forma preconceituosa e elitista de conduzir os problemas da cidade. Suas ações promoveram distúrbios na região central contra a população de baixa renda, contra os trabalhadores informais (ambulantes, catadores, etc.), praças sendo cercadas por grades e obras como "rampas anti-mendigos". Ainda jogou asfalto sobre passarelas de pedestres priorizando uma cidade para carros. Destruiu ocupações urbanas, fortalecendo a especulação imobiliária e, defensor de
políticas higienistas, ao se referir à "revitalização" do bairro da Luz, disse "
Adoro problema! Vamos limpar a cracolândia!". Como Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Comunicação na Presidência de FH (1999 – 2001), proibiu uma entrevista do líder do MST, João Pedro Stedile, na Rede Pública de TV.
Pergunta para o Arnaldo Jabor se é isso que ele chama de aparelhamento do Estado? Sob a gestão do PSDB, a Secretaria de Cultura virou uma grotesca casa de
swing, onde eles trocam os cargos entre os amiguinhos, favorecem aos seus, sempre gastando o nosso! O que podemos esperar do Matarazzo é o mesmo que vimos do Sayad: açougueiros soltos em hospitais, banqueiros administrando o dinheiro público.
É como se houvesse um vampiro cuidando de nossos pescocinhos!
[OBS: A CORTIÇA vai tratar também sobre privatização da cultura em nível federal, mas isso fica pra depois, pois esse post já está muito extenso e, além disso, já deu no saco ficar escrevendo! Não deixe de acessar constantemente o blog mais firmeza do quarto andar do meu prédio: A CORTIÇA]