Papo sério, guloseimas e afins.

Sorte do dia:
"Ah se eu pudesse sacar meu revólver" (Madre Teresa de Calcuta)

“Não há nada que uma boa paulada na nuca não resolva” (Mahatma Gandhi)

“But we can, you kow we can Let´s lynch the landlord man!!!” (DEAD KENNEDYS)

“Take’em all, take’em all Put’em up against a wall and shoot’em Short and tall, watch’em fall Come on boys take’em all!!!” (COCK SPARRER)

30/04/2011

ESTRÉIA de BÁRBARA em A CORTIÇA: Arte e Educação

 Seguindo sua "nova" política editorial (na verdade nunca houve uma) o blog mais inovador do bairro, A CORTIÇA, apresenta a primeira contribuição de nossa querida BÁRBARA MILANO! 

A partir de agora, frequentemente os assíduos leitores poderão compartilhar das impressões de nossa companheira sobre as "cousas" da nossa insatisfeita existência. 

Essa é apenas uma das inovações pelas quais A CORTIÇA está passando. E, sim, tem mais!

Enfim, sem bi-bi-bi, nem bó-bó-bó, vamos direto ao ponto! Barbarela!!!

 Quando fui convidada pelo conselho do A CORTIÇA para integrar de algum modo sua página, me senti grata e honrada, é claro, pelo espaço. Logo comecei a pensar: Mas sobre o que escrever? Artes... Artes... Feiras de arte, masturbação elitista, glorificação do ego nosso de cada dia... Arte-educação, educação... É isso!

Passaram-se dias, dias e nenhuma argumentação epifânica sobre arte-educação nas escolas, museus, praças, viadutos me ocorria.

Bem... Preciso antes me redimir e deixar claro ao leitor que escrevo como estudante. E não tenho a pretensão de lançar aqui alguma verdade nunca antes imaginada. Quero apenas refletir com vocês alguns aspectos deste vasto tema, começando, é claro pelas nossas corriqueiras conversas de buteco, aquelas discussões inflamadas sobre qualquer coisa, futebol ou política... Onde imagino, você tenha ouvido alguém dizer: “O problema é a educação! Se eu fosse presidente eu investiria tudo em educação, as crianças passariam o dia na escola...”.

(suspiro) Me pergunto, que educação é essa que o interlocutor metafórico Zé presidente acredita ser tão necessária? Em que autores o patriótico Zé presidente se ancora para suas afirmações?

É claro que, para termos opinião sobre algum assunto não necessariamente precisamos saber tanto quanto o Jô Soares. Conceitos vão se formando muitas vezes de observações quase superficiais e o exercício de falar e debatê-las com os amigos nos torna, eu acredito, mais aptos para perceber nossos próprios pré-conceitos sobre as “cousas”. Mas é consenso geral que tenhamos alguma familiaridade com o tema... não é? E no que diz respeito à escola, quase todos nós, em uma metrópole como São Paulo, temos alguma experiência ainda que desastrosa.

Opa! Está é uma questão interessante, o que podemos considerar uma boa experiência escolar? Vamos pensar: Mensalidades que fazem com que os pais estejam mais ausentes do que presentes na educação de seus filhos; piso emborrachado e quinas protegidas com EVA para que não exista o risco daquele cortinho no queixo que deixará marca por toda a vida, deixando a pessoa inapta para algum destino glamuroso onde sua beleza e perfeição seja o único pré-requisito; livros e mais livros escritos e ilustrados por profissionais pouco críticos e preconceituosos... Ou talvez, uma formação que nos proporcione alguma autonomia diante das “cousas” do mundo?

 
"Falando em autonomia. Qual a autonomia da educação brasileira em relação ao mundo? Temos uma razão própria as nossas necessidades?"

Em John Dewey e o Ensino de Arte no Brasil (Ed. Cortez, 2001), Ana Mae Barbosa dedica ao terceiro capítulo o título “Cronologia da Dependência”, que discorrendo sobre a história da educação no Brasil aponta a incessante fixação em modelos importados. Não sendo contudo, apontado como solução pela autora a “romântica” (como ela adjetiva) idéia de que devemos viver em uma ilha de isolamento. (Se faz necessário deixar clara essa relação de opostos levando em conta nossa cultura de isso ou aquilo e quase nunca isso e aquilo).

A realidade é que a educação brasileira tornou-se uma colagem de experiências vindas de fora. Ainda sim, toda escola particular no Brasil e a maioria dos professores de arte, mesmo no sistema público, procuram mostrar ansiosamente que estão usando métodos criados por eles próprios, ou pelo menos modificados por eles. As modificações nunca são estruturais, mas sempre insignificantemente periféricas e algumas vezes meras reduções de modelos estrangeiros. No último semestre tive uma aluna que ensinou arte durante oito anos numa escola experimental de São Paulo, e nunca se dera conta de que nela se seguia o modelo da escola de Sèvres, na França. Pensava que a experiência era de origem exclusivamente brasileira.

O primeiro passo em direção à independência é a conscientização da dependência. “Aqueles que verdadeiramente se comprometem com a libertação”, deviam adotar um conceito dos homens 'como corpos conscientes' e da 'consciência como consciência intencionada ao mundo'.” (Paulo. Freire. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1970, p. 77.)

As análises existentes sobre o sistema educacional brasileiro provam, por exemplo, que as soluções vindas da França, dos Estados Unidos ou da Inglaterra implicam o mesmo grau de renúncia da consciência social. Porém, a falta de consciência histórica está levando os intelectuais e professores de arte brasileiros a supervalorizarem a influência francesa ou inglesa como uma estratégia de luta contra esta influência. Contudo, a respeito de invasão cultural, concordo com Donald Swift: “Não podemos aceitar distinções qualitativas entre culturas”, e com Carnoy, que afirma: “Descolonização ou libertação exige luta social e pessoal, o que requer muito mais do que simples recolher uma bandeira e hastear outra”.”

Não creio que minhas palavras tenham agora alguma validade na finalização deste texto, talvez fosse mais proveitoso buscar mais algum excerto nos livros e textos de minha estante. Mas não quero me alongar muito... Quero que isso seja parte da conversa de buteco.

 (Desconsiderem o símbolo do flamengo, por favor...)

Bárbara Milano é estudante de Licenciatura e Bacharelado em Artes Visuais. E têm muitas dúvidas quanto a possibilidade de uma mundo melhor.

3 comentários:

  1. Olá a todos do time d´A Cortiça!

    Estou aqui humildemente deixando meu comentário, motivada pelo que a Bárbara falou no início do texto: que não precisamos ser necessariamente especialistas para darmos nossa opinião sobre algum assunto.
    Gostaria de comentar sobre as impressões que tenho a respeito das aulas de artes, especialmente nas escolas públicas de São Paulo (pois foi a única que conheci, e de certa forma agradeço por isso).Bárbara, a impressão que tenho é que os professores de artes da minha época e a maioria dos de hoje também não seguem qualquer tipo de método; pode parecer um tanto extremista e acredito que o seja mesmo. Quando estudava no ensino fundamental, as aulas de artes apesar de serem bastante divertidas as crianças, se restringiam a desenhos já prontos e mimeografados que os alunos preenchiam com lápis de cor ou com purpurina e lantejoulas. No Ensino médio, quando as lantejoulas cairam um pouco de moda vieram as releituras de obras famosas, porém quase sempre limitados ao lápis de cor.
    Nada contra o lápis de cor (admiro quem sabe utilizar este material que para mim é bastante difícil de se obter um resultado realmente bom), mas acredito que as crianças com toda a criatividade que lhes é natural tem a capacidade de ir muito além do que o simples preenchimento destes desenhos, porque o exercício da criação com este tipo de exercício na minha opinião é insuficiente. Digo isto, pois conheço uma professora de artes da 8º série que já me relatou que seus alunos estão presos a este tipo de exercício e que não conseguem desenvolver sua criatividade em exercícios mais abertos.
    No Ensino médio acho que há a falta de além de exibir as obras clássicas, mostrar o contexto histórico em que estão inseridas e a importância real que tiveram em sua época, além de explicar corretamente alguns termos, como mesmo a palavra "releitura" que poucos entendem o que realmente significa.
    Acho que é necessária a experimentação, mas não só a experimentação do "desenho-livre", e sim com direcionamento do professor, demonstrando diferentes materiais e suas texturas, estilos, e além de tudo incentivando o aluno a se expressar verdadeiramente. Talvez assim o 'desenho-livre" se tornasse mais do que casinhas com árvore da frente.

    Não sei ao certo como terminar, mas a verdade é que fico triste com a situação do ensino de arte nas escola públicas. Acho que esta é ainda uma disciplina considerada apenas como recreativa, e as pessoas ainda não entendem qual sua real importância.
    Ainda estamos naquela fase de quando te perguntam qualsua formação e respondemos "Sou artista plástico" E as pessoas perguntam de volta: "Mas você trabalha no quê?

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  2. Gabriela,

    agradeço o comentário e peço desculpa pela demora em responder... mas esse tal de trabalho suga a gente (ao menos do modo como somos forçados a faze-lo). Eu concordo contigo, em tudo... Inclusive no que diz respeito ao bloqueio dos estudantes quando confrontados com novas atividades que exijam mais (atenção, reflexão, senso critico).

    As crianças chegam às escolas com muitas referências (família, televisão...)... Conceitos e ou pré-conceitos já quase embutidos (só par dar um exemplinho: “esse caderno é de menina, não vou usar”).

    Agora existe uma maré que arrebenta contra esse triste cenário... E é por ela que estamos aqui... Escrevendo e debatendo esse e outros assuntos aqui na cortiça.

    Você falou que falta apresentar os clássicos aos estudantes... ok, falta. Mas falta apresentar o que está sendo produzido hoje. È importante que estudantes de diferentes idades possam entrar em uma mostra como a Bienal e não se sentirem alheios aquilo (que ainda que manipulado por interesses econômicos, ainda que pertencentes fatalmente a uma “elite” cultural é linguagem – e isso é de todos).

    A capacidade de ver um trabalho e problematiza-lo inclusive quando este não parece apetitoso aos olhos...

    Vou escrever mais sobre isso... Abraço.

    ps.: sobre o lápis de cor o trabalho de uma amiga que o usa com destreza até mais do que o pc (tão comum entre ilsutradores). http://dddesenho.blogspot.com/

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  3. Concordo com você sobre mostrar o que está sendo produzido hoje, tem toda razão. Até porque tem muita gente boa por aí...tem gente ruim que se passa por boa também, mas acho que isso sempre tem em qualquer tempo...

    Aah e obrigada pela resposta ao meu comentário, que agora relendo vi como meu português saiu terrível...heueheueheue
    E obrigada tb pela dica do blog, novas referencias sempre são muito bem vindas =)

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